quarta-feira, 21 de novembro de 2012

OS FERIADOS DE CONCEIÇÃO VIEIRA

"Quando chega o Dia da Consciência Negra, Sergipe, que nunca ouve o que Conceição Vieira tem a dizer, ignora a data completamente e experimenta, sem saber, a benção de ser civilização. A Bahia, a miséria de ser ainda mais Bahia."

O Dia da Consciência Negra foi feriado em alguns municípios da Bahia. Em Sergipe, não. Conceição Vieira, a deputada, lamentou. Sabe-se que Sergipe é um puxadinho da Bahia. Às vezes, é melhor que a casa. Às vezes, é só onde se encosta a bicicleta. Às vezes, é só onde nos escondemos em dia de faxina. Às vezes, é apenas onde enterramos revistas de pornografia. Mas quando chega o Dia da Consciência Negra, Sergipe, que nunca ouve o que Conceição Vieira tem a dizer, ignora a data completamente e experimenta, sem saber, a benção de ser civilização. A Bahia, a miséria de ser ainda mais Bahia.

Ninguem aguenta mais discutir a massacrante irrelevância do Dia da Consciência Negra. Todos já cansaram de saber que apenas políticos e membros de movimentos sociais, que também querem ser políticos, dão a mínima para isso. O Dia da Consciência Negra não é mais do que o dia da exploração da inconsciência cidadã. Como há um medo generalizado de se falar no assunto ‘consciência negra’, a imbecilidade apocalíptica dos movimentos sociais pauta a imprensa, a política e os discursos de Conceição Vieira. 

O Dia da Consciência Negra só consegue ser tema atrasado de uma crônica porque o assunto mais importante de Sergipe, nos últimos dias, foi o brevíssimo retorno do governador Marcelo Déda de seu tratamento – para o qual voltará de novo. Como o tratamento de Marcelo Déda o impede de ser governador, ele não governa. Quando ele não governa ou está para não governar, fica tão interessante e público quanto eu. Como eu e Marcelo Déda em tratamento não interessamos a ninguém, o menu de hoje pede uma nulidade qualquer ligeiramente melhor do que nossa insignificância. 

O Dia da Consciência Negra ganhou ares de data festiva no Brasil. Como qualquer outra data festiva no Brasil, ele serve para várias coisas, menos para aquilo que o senso comum sempre apresenta como justificativa universal e inequívoca de qualquer feriado: o repeteco enjoado da reflexão. Uns preferem brincar de capoeira. Outros preferem se fantasiar de somali alimentado. Outros preferem distribuir vexatórios e extemporâneos discursos afirmativos. Estão todos certos, é claro. Data comemorativa não é dia de ter trabalho. E refletir dá trabalho. Refletir dói. Refletir é ameaçador. Refletir pode arrebentar as bases de qualquer farsa. Como a data é uma farsa, a única coisa que os militantes precisam fazer é negar a menor possibilidade de pensar sobre ela. E abrir uma roda de capoeira.

Se a reflexão fosse a tônica do Dia da Consciência Negra, a primeira coisa a ser feita seria pensar na figura de Zumbi dos Palmares como patrono e representante da liberdade negra. Como Zumbi dos Palmares nunca foi mais do que um escravocrata alagoano, a segunda coisa a fazer seria tentar encontrar o conceito de raça. Como o conceito de raça não existe, a terceira coisa a fazer seria discutir a peculiaridade da “nação negra” no multiculturalismo brasileiro. Quando descobrirem que essa política de separatismo social só encontra paralelos no que a humanidade produziu de pior, só restará a quarta coisa a fazer. E a quarta coisa a fazer é tentar adivinhar todos os jargões afirmativos que as celebridades dirão na posse de Joaquim Barbosa no STF. 

Sergipe não dá a mínima para o Dia da Consciência Negra. Sergipe não dá a mínima para Conceição Vieira. Se a junção entre Dia Da Consciência Negra e Conceição Vieira dá em feriado, Sergipe ignora e prefere ir ao trabalho. Sergipe só não aprendeu a ignorar a imbecilizante publicização e a exploração política – de ambos os lados – dos problemas particulares do governador. Quando Conceição Vieira analisar isso em profundidade, não terá dúvidas. Pedirá, para cada dia que o governador voltar a trabalhar, um feriado. 

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