segunda-feira, 29 de outubro de 2012

AS IRMÃS FRANCISCANAS DE SÃO MARCELO

"Assim como Jacques Haddad, o governador continuou com seus afazeres mesmo sob a opressão de uma doença. As irmãs franciscanas da Santa Cruz do Líbano devem ter admirado profundamente o desprendimento de seu mestre, mas prosseguiram seu trabalho. As irmãs franciscanas da São Marcelo, por outro lado, usam seu trabalho para aproximar o governador do Vaticano."

Jacques Ghazir Haddad foi um frade libanês morto em 1954. Durante sua vida, fundou hospitais, abrigos e casas de assistência social. Em 1920, criou a ordem das Irmãs Franciscanas da Santa Cruz do Líbano. Uma de suas biografias exalta-o como um sujeito incansável, que mesmo acometido de cegueira e leucemia, nunca interrompeu seus trabalhos de amparo aos pobres, doentes, idosos e sem-teto. Em 1979, um processo a favor de sua beatificação foi instaurado no Vaticano. Em 2008, ele foi finalmente reconhecido beato. Ser beato não significa ser santo. Mas significa estar na lista de espera para sê-lo.

Fernando Haddad, prefeito eleito de São Paulo, possui ascendência libanesa e sobrenome homônimo ao do frade. Mas apesar de ser um quadro do PT com grandes chances de ser beatificado e canonizado pelo diretório nacional do partido, tem muito menos em comum com Jacques Haddad do que Marcelo Déda. Por uma razão simples. Assim como Jacques Haddad, Déda tem em seu auxílio sua própria ordem das Irmãs Franciscanas da Santa Cruz do Líbano. É a ordem das Irmãs Franciscanas de São Marcelo.

A ordem das Irmãs Franciscanas de São Marcelo realiza trabalhos de assistência aos pobres desinformados e intelectualmente oprimidos. Seu objetivo, porém, é o inverso de sua símile libanesa: enquanto a estrangeira partia da assistência social para uma consequente reverência ao seu tutor, a ordem franciscana local parte da reverência ao seu tutor para alcançar alguma espécie ainda desconhecida de assistência.

Como toda ordem franciscana, a ordem de São Marcelo também faz voto de pobreza. Suas privações incluem a negação absoluta de valores como discernimento, interpretação crítica e avaliação razoável da realidade. A pregação das irmãs franciscanas, entretanto, prescinde do expediente da peregrinação. Seu método é o da disseminação por meios de massa. Seus canais preferidos, colunas políticas de jornais impressos locais e portais de notícias.

As irmãs franciscanas de São Marcelo são caracterizadas por uma certa aflição. Ao contrário de suas correspondentes orientais, elas querem ver seu magnânimo líder beatificado imediatamente. Se Jacques Haddad teve de aguardar 25 anos depois de morto para conseguir um processo de beatificação no Vaticano, Marcelo Déda já teve seu processo enviado no último sábado. A emissão dos protocolos foi confirmada pelo texto em primeira pessoa “Déda e a voz da alma”, de autoria de uma das irmãs franciscanas mais carolas da ordem: Cláudio Nunes. No emocionado depoimento, Déda transmuta-se de simples governador adoecido a mártir superior. Um mártir que ascenderá com sua doença ao panteão auriverde dos heróis nativos, enrolado na bandeira de Sergipe e vociferando, em dialeto Tupinambá, alguma coisa que a Secom enfeitou depois e Eugênio Nascimento reproduziu na íntegra.

Assim como Jacques Haddad, o governador continuou com seus afazeres mesmo sob a opressão de uma doença. As irmãs franciscanas da Santa Cruz do Líbano devem ter admirado profundamente o desprendimento de seu mestre, mas prosseguiram seu trabalho. As irmãs franciscanas da São Marcelo, por outro lado, usam seu trabalho para aproximar o governador do Vaticano.

A imprensa sergipana é uma piada. Ser piada não significa ser farsa. Mas é estar na lista de espera para sê-la.

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