terça-feira, 16 de outubro de 2012

APOCALYPSE ALAGOAS

Nova categoria: compra voto, mas diz

Déda sabe das coisas. Ele sabe que político sergipano não se sensibiliza com elogios. Não por excesso de modéstia. Político sergipano não se sensibiliza com elogios porque sabe que não há predicativo positivo que descreva seu perfil e sua trajetória. A única forma de valorizar um político sergipano é esculhambando os dos outros estados. Foi o que Déda fez ao lançar ontem a categoria literária ‘online aphorisms’. Ele esculhambou os políticos de Alagoas. Disse que há um consenso no país de que eles não sabem superar "questiúnculas partidárias". Ou seja: chamou-os de mesquinhos.

Quando um governador comete a indelicadeza de elogiar um político local, vou imediatamente atrás da ficha criminal e do passado sujo do sujeito. Quando um governador presta o serviço de esculhambar políticos de outros estados, tomo como verdade. Me acomodo. Não quero saber, deve ser isso mesmo. No caso de Alagoas, Déda está geograficamente perto demais, mas politicamente longe demais para ser afetado pela repercussão do que disse. Ou seja: é uma consideração distanciada. Os políticos de Alagoas devem mesmo ser mesquinhos. Como a mensagem era para os deputados sergipanos, infiro que o termo 'políticos' se referia, na comparação do governador, aos deputados alagoanos.


Mas a internet torna as coisas fáceis demais. Não consegui me livrar da curiosidade de saber qual o problema dos deputados de Alagoas. Entrei no site da Assembleia Legislativa [http://www.ale.al.gov.br/]. Está fora do ar. Em março, ele foi atacado por hackers. Na imprensa online, o legislativo alagoano é invisível. Como não há um site para emitir releases, discursos e repercussão de picuinhas internas, não há assunto. A assembleia legislativa de Alagoas, atualmente, não é notícia.

Apesar disso, pesquisei e constatei que 2012 foi um ano agitado para a assembleia alagoana. Foi o ano em que estourou um escândalo relativo a um rombo de R$ 300 milhões na folha de pagamentos da Casa. Foi o ano em que o Custe o Que Custar (CQC) descobriu que a sede do legislativo sofria de falta de papel higiênico. Foi o ano em que o deputado estadual Temóteo Correia (DEM) admitiu para o mesmo CQC que comprava votos. Foi o ano em que o mesmo deputado defendeu o ‘impeachment’ de jornalistas locais. Foi o ano em que os deputados alagoanos derrubaram um veto do governador e aprovaram, para eles mesmos, um reajuste salarial de 108%.

Não vi nada que apontasse que os deputados de Alagoas sejam mesquinhos. Tudo o que levantei apontava que eles são corruptos. Roubam grande, pensam alto, saqueiam com volúpia, com vigor e orgulho. Já os deputados estaduais de Sergipe são, em sua maioria, liderados por um lobista. Saem na mão na saída do elevador. Fazem campanhas eleitorais controversas. São bons de ironia, ruins de projeto. São bons de cutucadas pessoais, ruins de agilidade procedimental. Os deputados estaduais de Sergipe, à luz das circunstâncias, é que são mesquinhos. Ainda bem.

Chamar um deputado alagoano de mesquinho é elogio. Não chamar um deputado sergipano de mesquinho é uma omissão eufêmica. Mas comparar as realidades políticas de Alagoas e Sergipe é a melhor forma de acariciar o ego dos políticos sergipanos enquanto classe. Foi o argumento mais forte da estranha cartinha retalhada do governador. Porque ser Sergipe já é ruim. Mas chegar ao nível de Alagoas exige providências. Custe o que custar.

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