sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O ESCURINHO E A BELLE ÉPOQUE

"O Nordeste continua agrícola. O Nordeste continua mal escolarizado. O Nordeste continua pobre. O Nordeste continua nordestino. No meio de minha pesquisa, veio um apagão. No meio do apagão, um vôlei de verborragia entre nordestinos e sudestinos. Depois do apagão, uma luz. A única coisa que realmente mudou no Nordeste foi aquilo que nem o IBGE nem a Teoria do Caos tentaram explicar. O nordestino está menos irreverente. O nordestino está mais ufanista. O nordestino está mais chato. "

Um dos vários nus artísticos que fiz durante o apagão

A Teoria do Caos é um importante pilar da ciência contemporânea. Um outro parece  ser o site do IBGE. Um dos objetivos da Teoria do Caos é depreender a complexidade de alguns fenômenos a partir de fórmulas matemáticas. O objetivo do site do IBGE é usar a complexidade de tabelas para convencer o internauta de que o Brasil é um caos. Enquanto os outros sites se esforçam para que o usuário permaneça, o site do IBGE se esforça para que o usuário saia e vá fazer algo melhor. É um esforço nobre. Mas como clicador compulsivo, não me abati. Continuei no caos do site do IBGE.

Vi que não há grandes novidades no Censo 2010. O Nordeste continua agrícola. O Nordeste continua mal escolarizado. O Nordeste continua pobre. O Nordeste continua nordestino. No meio de minha pesquisa, veio um apagão. No meio do apagão, um vôlei de verborragia entre nordestinos e sudestinos. Depois do apagão, uma luz. A única coisa que realmente mudou no Nordeste foi aquilo que nem o IBGE nem a Teoria do Caos tentaram explicar. O nordestino está menos irreverente. O nordestino está mais ufanista. O nordestino está mais chato.

Rir da própria miséria é o grande mote dos sobreviventes. Os índices do IBGE apontam que o Nordeste continua terra de sobreviventes, embora o Norte já esteja se assentando melhor no posto de pior lugar do país. Os nordestinos das redes sociais, entretanto, discordam. Para eles, o nordeste é a Babilônia. Não tem ninguém sobrevivendo aqui. Estão todos de férias em Fortaleza. Por isso, acabou a brincadeira. Ninguém está autorizado a fazer piada sobre o Nordeste. O Nordeste dos tuiteiros virou uma nação autônoma de avanço, felicidade, tomadas de Juliana Paes nua em Ilhéus e reportagens sobre tubarões em Fernando de Noronha.

Quando o Nordeste começa a se sentir uma nação autônoma, é hora de se preocupar. Quer dizer que ainda não sabemos muito bem o que significamos. É uma das disfunções cognitivas do ufanismo imbecil. Ser ufanista é considerar que as qualidades são tão superiores aos defeitos que chegam, até, a anulá-los. Ser imbecil é ter coragem de emitir qualquer pensamento posterior a esse estado de nulidade crítica. Como pedir mais respeito.

Acontece que o Nordeste é só uma das piores partes de um país que nunca esteve muito bem. Se estivesse sozinho, estaria arruinado. Poderíamos acabar governados por José Sarney. Não que Dilma seja melhor do que Sarney seria. Mas ela possui uma vantagem importante: tem mais estados para governar atabalhoadamente. Ao invés de ficar mais uma semana em Salvador para pedir votos para um dilmista local, ela tem que ir correndo pra São Paulo para pedir votos para outro dilmista local. Estamos salvos. 
Nu frontal
Como o Nordeste não é uma nação autônoma, morde o patrimônio nacional. O patrimônio nacional é gerado, em grande parte, pelo Sudeste. Eles não costumam ser muito bons de piada. Também são péssimos em música. Mas são bons de trabalho e de tomar emprego. No meio do caótico site do IBGE, constata-se que Sergipe, conhecida rota de fuga dos baianos, tem 79.303 baianos e 159. 554 paulistas. Já vi baiano assaltando sergipanos. Já vi baiano pedindo esmola. Já vi baiano embaixo da ponte. Não vi nenhum paulista nem assaltando, nem pedindo esmola nem embaixo da ponte. 

Há algum tempo, o máximo que o Nordeste conseguia era gerar bons comediantes. De repente surgiu a internet, os apagões e os bolsa-esmola. O Nordeste alcançou, pelos discursos tuiteiros, sua belle époque de prosperidade com direito a algum patrulhamento do senso de humor. No site do IBGE, porém, o Nordeste não mudou muito: continua o mesmo fenômeno sob números parecidos. No caos das redes sociais, quem anda mostrando que mudou foi o nordestino. Antes, ele não sabia de nada e usava o humor como escudo contra quem o desmerecia.  Hoje, ele acha que sabe alguma coisa e usa o ufanismo imbecil enquanto lhe levam o emprego. 

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