segunda-feira, 22 de outubro de 2012

AS PASTILHAS DA INDEPENDÊNCIA


(...) o discurso de Antônio para vender pastilhas era envolvente e possuía um ponto alto: a maior dificuldade da Efraim era não receber nenhuma espécie de apoio nem de governo nem de prefeitura. Não sei se isso é verdade. (...) No entanto, foi exatamente ali que levei a mão à carteira. Eu estava quase convencido da idoneidade que circundava a Efraim.
Antônio é um colaborador da Efraim. Efraim é uma organização não-governamental que se ocupa de recuperar viciados em drogas. Como todos os colaboradores, Antônio é um ex-viciado em drogas. Como todos os colaboradores, ele subiu no ônibus pela porta do meio para vender pastilhas em embalagens estranhas, que lembravam pacotes de cigarro. Em seu discurso, Antônio disse que o objetivo da Efraim era fornecer apoio a pessoas as quais a sociedade não dava mais crédito. Pessoas que não são mais dignas do menor crédito, ao meu ver, são a quase totalidade da classe jornalística local, a absoluta totalidade da classe política em geral e a absoluta totalidade da zaga do Palmeiras. Um lugar que fornece apoio a este tipo de gente não merece nenhum tipo de subsídio. Para meu alívio, Antônio não se referiu a nenhum deles.

Ao contrário do último discurso de Valadares a respeito do Proinvest, o discurso de Antônio para vender pastilhas era envolvente e possuía um ponto alto: a maior dificuldade da Efraim era não receber nenhuma espécie de apoio nem de governo nem de prefeitura. Não sei se isso é verdade. Mas nessa hora, a menininha virou a cara. A velhinha não quis nem saber. O cobrador fez um muxoxo. O sujeito com cara de professor de sociologia fechou a bolsa. O próprio Antônio se abateu. No entanto, foi exatamente ali que levei a mão à carteira. Eu estava quase convencido da idoneidade que circundava a Efraim. Só não dei nada porque não gosto de pastilha. Principalmente se vierem em embalagens semelhantes às de cigarro.

A Efraim não recebe apoio governamental. Isso significa que ela não está sujeita ao carnívoro sistema de doutrinação e dominação política explicitados por José Genoíno em sua assombrosa entrevista ao Terra Magazine. Significa que ela está distante do expediente de aparelhamento que caracteriza a relação do governo com ONGs. Significa que ela não será usada como ferramenta para compensar a anemia política do governo dedista. Significa que ela não será alvo do criticismo barato e feito às pressas da atual oposição. Significa que ela não será citada nos cumprimentos matutinos que lambedores testiculares do governismo fazem entre si em redes sociais.

Não comprar a pastilha que Antônio foi vender no ônibus foi o meu maior erro em todo o ano. Tudo o que está distante da atual classe governista, que aplaude e compactua coisas como Mensalão e reeleição de Hugo Chávez, e o oposicionismo, que sofre de anencefalia programática e ausência de estratégia, merece respeito e algum subsídio. Da próxima vez, comprarei todas as pastilhas que Antônio tiver à mão. Porque, pelo que ele disse, a Efraim presta apoio a pessoas que a sociedade recusa em aceitar. Muito melhor do que prestar apoio às que ela aceita.

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