sábado, 13 de outubro de 2012

OS REIS DOS PEREBAS

Renda: R$ 11 e dois vales-transporte

Carivaldo Souza, nosso Ricardo Teixeira a la Jorge Amado, andou dizendo que o futebol sergipano não é decadente. Ele está certo. O futebol sergipano não é decadente. É arrogante. Pensa alto demais. Quer subir à série C. Depois, à série B. Depois, à série A. Entre os mais desequilibrados, há até quem pense em Libertadores.

Essa vibração otimista precisa acabar. Ela é a maior fonte da miserabilidade com que o torcedor olha para si mesmo e para os times locais. Ele acredita que seu time tem chance de ir a algum lugar. Quando a razão dá as caras e ele percebe que não tem chance alguma de nada, exige dos dirigentes dos clubes e da federação medidas para melhorar os times. Mas os dirigentes dos clubes e da federação não têm nada a ver com a qualidade dos times. Eles têm a ver com a qualidade dos adversários. Alterar a qualidade dos adversários significa mexer no calendário, e isso significa levar em conta a informação mais importante que existe sobre o futebol sergipano: ele é muito, muito ruim.

No Nordeste, o futebol sergipano só possui mais expressividade que o do Piauí. Como não tem nada no Piauí além de focos periódicos de escândalos políticos e repórteres atrás de prêmios em cima da estética da miséria, é mais razoável dizer que o futebol sergipano é o pior do Nordeste. Não sou eu quem diz. É o ranking da CBF.

ATENÇÃO: EXCESSO DE NÚMEROS

Se distinguirmos as melhores equipes de cada estado, constataremos que Sergipe, o estado, demora muito para aparecer. O time mais bem colocado da região é o Bahia, em 14º. Em seguida vem o Sport, representando Pernambuco em 17º.  O Ceará fincou seu estado homônimo em 24º. O América, de Natal, é o 29º. O CRB de Alagoas é o 37º. Logo depois disso, é preciso entrar em zonas de pouco oxigênio.

Nas proximidades do fundo do poço está o maranhense Moto Club, saco de pancadas de várias Copas do Brasil, fincado em um já desgostoso 60º. E logo atrás dele o desgraçado Treze da Paraíba, 61º. Só aí temos o primeiro time sergipano no ranking: o Sergipe, em 72º. Um pouco atrás vem o Confiança, em 79º. Ainda mais atrás vem o Itabaiana, em 104º. O melhor resultado do Sergipe em âmbito nacional foi um 23º lugar no Brasileiro da série A de 1983. Desde 1986 o “mais querido” não põe os pés na zona de elite. O Confiança tem uma história ainda mais digna de pena: foi o 26º na série A de 1977, de onde está longe há ainda mais tempo: 28 anos.

Se o futebol sergipano parar de olhar para cima e se voltar para as zonas abissais da qual faz parte, encontrará um paraíso. Porque ruim mesmo deve ser gostar de futebol em Roraima, Rondônia, Acre, Amapá, Tocantins e Mato Grosso do Sul. O melhor time de Rondônia é o Ji-Paraná, na 133ª colocação. No Amapá, a superpotência é o Ypiranga, o felizardo da 166ª posição. No Mato Grosso do Sul, quem manda é o medonho Ubiratan, 193º. Em Tocantins, o supercampeão é o Araguaína, na invisível 206ª posição. Em Roraima, o melhor time é o Baré, 221º. Finalmente, o pior dentre os melhores times estaduais é o Atlético Acreano, logo atrás do Baré. O Atlético Acreano é conhecido como Galo Carijó. Em 60 anos de existência, ganhou o campeonato estadual seis vezes. E não faz isso há mais de vinte anos.

O Galo Carijó é o adversário ideal para o Sergipe. O Baré deveria ter um amistoso agendado com o Confiança para ontem. Se eu fosse Carivaldo, criava imediatamente uma Copa Sergipe/Rondônia. O futebol sergipano é subprofissional, mesquinho, banido da televisão, mal patrocinado, dirigido por quadrúpedes e instigado por entidades criminosas infiltradas em torcidas. Está na fase ideal, portanto, para pleitear as melhores posições dentre os piores times do país. Chega de sonhar. Precisamos ser os reis de alguma coisa. Precisamos ser os reis dos perebas. 

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