segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PERDOE, TENHO NÃO


Dia do professor. Não tenho maçã para oferecer. Nem amendoim. Nem camisa do Sintese. Nem panegíricos, nem palavras de agradecimento, nem ofensas, nem caminhadas sem roupa pela Hermes Fontes. O máximo que posso fazer por eles é lançar a utopia da privatização da educação. Dilma, Mercadante, Déda, Belivaldo Chagas, quem quer que seja: vendam as escolas. Acabou.

Dilma decidiu consolidar o sistema de cotas para alunos da rede pública nas universidades de uma vez por todas. É o atestado definitivo de que a política de educação foi encerrada
no Brasil. As verbas do Fundeb irão para o Itaquerão do Corinthians. O dinheiro do Ministério da Educação servirá para adiantar as obras da Copa em Recife. As verbas do Fundeb também ajudarão a abafar com propaganda o crescimento do PSB em Pernambuco. O dinheiro do Ministério da Educação também servirá para a nomeação de cargos para os 18 kg que Ronaldo diz que está perdendo em rede nacional.

Com as cotas, o governo admite que desistiu de investir em educação. “É isso. Vocês da rede pública não valem um centavo”, diria Dilma. “São uns perdedores”, diria Mercadante. “Desculpem. Não temos como ajudá-los. Valeu por tudo e até nunca mais”, diriam Déda e Belivaldo Chagas. A decorrência é simples: se o governo não tem como ajudar os estudantes, que entregue a educação a quem pode – a rede privada. E que devolva cada centavo do nosso dinheiro investido nela – que não é muito, mas faria falta.

Em uma solenidade há alguns anos, presenciei o governador Marcelo Déda dizer que sentia orgulho dos aprovados pelo sistema de cotas para alunos da rede pública em Sergipe. Eu não sentiria orgulho dos aprovados. Sentiria vergonha de ser governador. Se estou diante de pessoas que foram empurradas pelo Estado para a cabeceira de um regime meritocrático, me encolho, peço desculpas e digo que isso jamais acontecerá novamente. Digo ainda que farei o possível para que eles entrem pela porta da frente, eliminando quem deveria e dando ao vestibular o desempenho que ele pede. E se sou um governador com ensino superior e ex-aluno de rede pública, ainda complemento: olhem para mim. Eu consegui. 


Fazer parte de uma universidade não é lá grande coisa. No segundo ano, o orgulhoso universitário começa a ficar de saco cheio do despreparo dos professores, do sucateamento das instituições, da preguiça dos servidores e passa a implorar pelo mercado – que irá destruí-lo e idiotizá-lo em menos tempo. Grande coisa é passar no vestibular. Porque passar no vestibular é, de fato, vencer. É marcar o seu próprio gol driblando todo o time adversário. Passar na cota é fazer gol de mão. E impedido.

A educação no Brasil já foi ruim. Aprovaram as cotas. Ela foi pro brejo. Mas antes que as aulas de Epistemologia e Sociologia II se transformem em aulões-show de Geografia para o concurso do Banco do Brasil, a educação precisa ser entregue a quem entende. E hoje quem entende é quem sabe lucrar com ela. O máximo que pode acontecer é a generalização da indústria do vestibular, da corrida desesperada pelo preparo e o fim das carreatas do Sintese. Ou seja, tudo o que o Brasil precisa.

Dia do professor. Não tenho nada pra oferecer. Quem tem é Dilma, Lula, Déda, Belivaldo Chagas. Peçam a eles.

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